O que é VALOR?

Entenda o conceito de valor segundo a filosofia e a economia e como diferente escolas de pensamento definem de valor.

O que é valor pra você ? Não tenho dúvidas que se estivéssemos em um dos diálogos em que Sócrates conduzia, esse seria um questionamento relevante e intencional. Objetiva-se mostrar ao leitor teorias e modelos desenvolvido a partir da ideia objetiva e subjetiva de valor que compõe a filosofia e economia, expondo com clareza as criticas e advertências discorridas sobre a perspectiva de outros autores. Por fim, como responder tal pergunta? É prestigioso que introduzamos do significado atribuído a palavra “valor”:

– Dicionário Michaelis: Valor é a medida do mérito ou da importância de algo ou de alguém; preço que algo ou alguém tem no julgamento de outrem.

– Dicionário Houaiss: Valor é a qualidade pela qual uma pessoa ou coisa é estimada, seja pelas suas qualidades, seja pelo seu preço, utilidade ou importância.”

– Dicionário Aurélio: Valor é aquilo que é considerado bom, importante ou desejável; conjunto de qualidades que fazem alguém ou algo merecedor de apreço.”

O conceito de valor é central tanto na filosofia quanto na economia, e foi discutido por diversas escolas de pensamento ao longo dos séculos. A seguir, apresento-lhes uma visão histórica com os principais pensadores e suas abordagens sobre o valor, tanto em termos filosóficos quanto econômicos.


FILOSOFIA

Na FILOSOFIA o conceito de valor é amplo e inclui valores morais, estéticos, sociais e políticos. O foco geralmente está na axiologia, o estudo dos valores. Se alguns dos principais filósofos e suas abordagens:

Para Platão (427-347 a.C), o valor é algo transcendente e imutável, pertencente ao mundo das ideias. O conceito de valor está relacionado à verdade, ao bem e à justiça. Para ele, o valor não é subjetivo, mas existe de forma objetiva no mundo das ideias.

Diferente de Platão, Aristóteles (384–322 a.C.), considera o valor como algo que reside na função e finalidade de um objeto ou ação. Para ele, o valor de algo está relacionado ao seu “telos” (finalidade ou propósito). A ética aristotélica gira em torno da busca da “eudaimonia” (felicidade ou realização), onde o valor moral está em viver de acordo com a virtude.

Immanuel Kant (1724–1804) trata o valor moral como algo intrinsecamente relacionado à racionalidade e à autonomia. Para ele, o valor supremo é o respeito pela lei moral, a qual se expressa pelo imperativo categórico. O valor é uma questão de dever, e os seres humanos são fim em si mesmos, com valor intrínseco.

Santo Agostinho  (354 d.C. a 430 d.C.) não oferece uma definição sistemática de “valor” em termos econômicos ou morais no sentido moderno, mas ele aborda o conceito de valor de maneira filosófica e teológica em sua obra. Para Agostinho, o valor está intimamente ligado à ideia de bondade, à ordem natural das coisas e à relação com Deus. Em suas reflexões, ele afirma que o valor das coisas não reside em si mesmas, mas na sua proximidade com o bem supremo, que é Deus. Segundo Agostinho, o valor maior é aquele que conduz ao bem e à verdade divina. Ele também destaca que, na hierarquia das criaturas, o que tem maior valor é aquilo que está mais próximo de Deus.

ECONOMIA

Na ECONOMIA, o conceito de valor evoluiu consideravelmente ao longo do tempo, com diferentes escolas de pensamento propondo abordagens distintas. Apresento-lhes os principais pensadores e suas teorias econômicas de valor:

Na Escola Clássica, Adam Smith  (1723–1790) e David Ricardo (1772–1823) tem abordagens curiosas sobre o conceito de valor, de certa forma categorizando o assunto. Adam Smith, um dos fundadores da teoria clássica do valor, propôs o conceito de VALOR DE USO (a utilidade de um bem) e VALOR DE TROCA (o que um bem pode ser trocado por outro). Para Smith, o valor de um bem, em termos de troca, é determinado pelo trabalho necessário para produzi-lo, o que deu origem à teoria do valor-trabalho.

Ricardo por sua vez expandiu a teoria do valor-trabalho de Smith. Segundo ele, o valor de um bem é proporcional à quantidade de trabalho necessário para produzi-lo, incluindo o trabalho indireto (capital utilizado na produção). Ele também introduziu o conceito de VALOR RELATIVO, considerando que o valor de um bem é comparado ao de outros bens no mercado e refere-se à relação entre os valores de troca de diferentes bens ou mercadorias, o valor de troca de um bem é relativo ao valor de outro, e essa relação depende principalmente da quantidade de trabalho necessário para produzir cada um. Por exemplo, imagine duas mercadorias:

      • Sapatos: Exigem 10 horas de trabalho para serem produzidos.

      • Camisas: Exigem 5 horas de trabalho para serem produzidas.

    O valor relativo dos sapatos será o dobro do valor das camisas. Se, no mercado, um par de sapatos for trocado por duas camisas, esse valor relativo reflete o tempo de trabalho necessário para produzir cada bem.

    Ricardo também considerou que, em uma economia capitalista, existem outros fatores que afetam o valor relativo das mercadorias, como o uso de capital e a proporção entre trabalho e capital em diferentes indústrias. No entanto, ele argumentou que, a longo prazo, o valor de troca de uma mercadoria é determinado principalmente pelo trabalho. Mais tarde os economistas neoclássicos teceram críticas à teoria do valor-trabalho de Ricardo e o conceito de valor relativo, que introduziram a teoria marginal do valor, enfatizando que o valor das mercadorias depende não apenas do trabalho, mas também da utilidade marginal que o consumidor obtém de cada unidade adicional de um bem, as veremos em breve.

    Karl Marx (1818-1883) desenvolveu a teoria do valor-trabalho de forma mais radical. Para Marx, o valor de uma mercadoria é inteiramente determinado pelo trabalho humano incorporado nela. Ele diferenciou o valor de uso (a utilidade de um bem) do valor de troca (o valor que um bem adquire no mercado) e argumentou que o capitalismo gera mais-valia (lucro) ao explorar o trabalho dos trabalhadores, que recebem menos do que o valor que produzem.

    Críticas a definição de valor de Marx também ocorreram, os marginalistas por exemplo, apontaram que Marx negligenciou o papel das preferências dos consumidores, eles argumentaram que o valor de uma mercadoria depende de sua utilidade marginal, ou seja, o benefício que um consumidor obtém ao consumir uma unidade adicional desse bem.

    Outro ponto indicado por eles foi que a teoria marxista subestima a importância da demanda, Marx acreditava que o valor de uma mercadoria era determinado apenas pela oferta, ou seja, pelo trabalho necessário para produzi-la, mas os marginalistas demonstraram que o valor de mercado é resultado da interação entre oferta e demanda.

    Além disso, há na julgamento marginalista o “problema da transformação”, onde Marx tenta explicar como os valores baseados no trabalho se convertem em preços de produção no mercado. Críticos afirmam que essa tentativa é falha e que os preços no mercado real não podem ser diretamente explicados pela teoria do valor-trabalho.

    Para a Escola Marginalista, composta por Carl Menger (1840–1921), William Stanley Jevons (1835–1882), e Léon Walras (1834–1910), o conceito de valor parte de uma resposta à teoria do valor-trabalho, para eles o valor de um bem não é determinado pela quantidade de trabalho necessário para produzi-lo, mas sim pela utilidade marginal, o valor para esta escola é subjetivo, pois é determinado pela avaliação individual de cada pessoa e pela utilidade que ela proporciona ao consumidor em um contexto específico de escassez. Eles também enfatizaram que o valor de mercado é um reflexo da interação entre as preferências dos consumidores (demanda) e a oferta disponível, não apenas do trabalho envolvido na produção.

    A teoria dos marginalistas levantou pontos relevantes, substituindo amplamente a definição dos economistas clássicos. É muito presente em áreas como economia política e as ciências sociais por exemplo, que discutem desigualdade e exploração do trabalho. Além disso, tem uma atuação assídua em muitos modelos de microeconomia, especialmente na analise de custo marginal, ou seja na perspectiva da produção para os autores desta escola há sim grande importância no valor do trabalho consideram um dos fatores de produção, e que seus custos afetam o preço final, mas não são mais vistos como o único ou principal determinante do valor. Em indústrias específicas ou em contextos econômicos como o setor público ou economias de planejamento central, o custo do trabalho pode ser uma métrica relevante para a formação de preços, embora não na mesma estrutura rígida da teoria do valor-trabalho clássica.

    Alfred Marshall (1842-1924) da Escola Neoclássica consolidou as ideais marginalistas, introduzindo a ideia de que o valor é determinado tanto pela utilidade (lado da demanda) quanto pelos custos de produção (lado da oferta). Ele usou o conceito de equilíbrio de mercado para explicar como o valor é definido no ponto onde a oferta encontra a demanda.

    Para os Neoclássicos, o valor é baseado na utilidade marginal como foi descrito acima que diferente da utilidade total (que é a satisfação total derivada do consumo de um bem), a utilidade marginal diminui à medida que o consumo aumenta. Esse é o princípio da utilidade marginal decrescente: quanto mais de um bem uma pessoa já possui, menos valor ou utilidade ela atribui a cada unidade adicional desse bem. Como por exemplo, se uma pessoa está com sede, o primeiro copo de água lhe traz grande utilidade (valor), mas o segundo copo já não é tão necessário, e o terceiro, talvez, tenha utilidade muito menor. O valor de cada copo de água adicional, portanto, diminui com o aumento do consumo.

    A Escola aborda também o conceito de equilíbrio marginal, que é o princípio da maximização da utilidade, aonde os consumidores alocam seus recursos (dinheiro, tempo) de maneira a maximizar sua satisfação ou utilidade. Eles continuam a consumir um bem até que a utilidade marginal (orquestrada por William Stanley Jevons (1835-1882)) desse bem iguale seu preço de mercado. Os produtores, por sua vez, maximizam seus lucros produzindo até o ponto em que o custo marginal de produção de uma unidade adicional seja igual ao preço que podem obter por essa unidade no mercado.

    Na Escola Austríaca há ênfase no subjetivismo do valor e a importância das escolhas individuais e do processo de mercado. Para Ludwig von Mises (1881–1973) e Friedrich Hayek (1899–1992), o valor é sempre subjetivo, determinado pelas preferências individuais em um contexto de incerteza. Eles criticaram a ideia de valor objetivo, argumentando que o valor é resultado das ações e interações de indivíduos livres.

    Para John Maynard Keynes (1883–1946), embora nao tenha se concentrado diretamente na teoria do valor, mudou a forma como os economistas viam o valor em termos de demanda agregada e seu impacto na produção e no emprego. Para Keynes, o valor de um bem ou serviço no mercado depende da demanda efetiva – a disposição e capacidade dos consumidores de gastar dinheiro em bens e serviços.

    Para a Economia Comportamental de Daniel Kahneman (1934-2024), Richard Thaler (1945) por exemplo, o valor é muitas vezes visto como influenciado por fatores psicológicos e comportamentais, e não apenas por racionalidade econômica.

    Talvez o leitor nunca tenha refletido sobre o fato de que o conceito de valor pode ser definido de maneiras distintas por diferentes escolas de pensamento. Os autores, ao exporem suas ideias, apresentam definições pessoais baseado em seu conhecimento sobre o que consideram ser o valor, e, em certo sentido, suas próprias interpretações dessa noção.

    O conceito de valor tanto na filosofia quanto na economia passou por uma evolução significativa ao longo do tempo. Na filosofia, o valor é visto através de uma lente moral, ética e muitas vezes subjetiva, enquanto na economia, as discussões sobre valor tendem a focar nas trocas de mercado, utilidade e trabalho. As diferentes abordagens refletem a complexidade inerente à ideia de valor, que continua sendo um tema central e amplamente discutido nas duas disciplinas.

    AB

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