O Motor Invisível da Economia e Seu Impacto nas Decisões Econômicas
As expectativas são um dos conceitos mais fundamentais e, ao mesmo tempo, mais desafiadores de se compreender na teoria econômica. Embora invisíveis, as expectativas desempenham um papel crucial na forma como indivíduos, empresas e governos tomam decisões econômicas. Seja a confiança dos investidores, as projeções de inflação por parte dos consumidores ou a antecipação das políticas públicas, as expectativas moldam diretamente o comportamento econômico, influenciando desde os ciclos de negócios até o crescimento de longo prazo. Este artigo explora a natureza das expectativas, sua evolução no pensamento econômico e a maneira como elas afetam a dinâmica da economia.
O Conceito de Expectativas na Economia
Em termos gerais, as expectativas econômicas referem-se às crenças ou previsões que agentes econômicos – como consumidores, empresários e investidores – têm sobre o futuro. Essas expectativas podem ser sobre uma variedade de eventos, desde a inflação futura, o crescimento do PIB, a taxa de desemprego até as políticas fiscais e monetárias que o governo pode adotar. A importância desse conceito reside no fato de que a economia não é estática, mas dinâmica, e as decisões de hoje são tomadas com base em projeções sobre o amanhã.
Expectativas no Pensamento Clássico
O conceito de expectativas já estava implicitamente presente no pensamento econômico clássico, embora não fosse central. Adam Smith, em sua obra seminal A Riqueza das Nações (1776), discutiu a confiança dos investidores e consumidores no futuro como uma força que poderia promover o crescimento econômico. Ele não teorizou explicitamente sobre as expectativas, mas reconheceu que a confiança e a antecipação dos agentes desempenhavam um papel importante no desenvolvimento dos mercados.
Entretanto, foi com a evolução da economia como uma ciência mais formal que o papel das expectativas começou a ganhar destaque. Durante o século XIX e início do século XX, as teorias econômicas ainda lidavam com o futuro como algo relativamente previsível e estável, sem a centralidade que o conceito de expectativas teria mais tarde.
John Maynard Keynes e a Introdução das Expectativas
A visão moderna do papel das expectativas na economia foi, em grande parte, moldada por John Maynard Keynes, especialmente em sua obra A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936). Keynes destacou a importância das expectativas na tomada de decisões de investimento. Ele argumentava que as decisões de investimento de longo prazo, como construir uma nova fábrica ou desenvolver novos produtos, dependem fundamentalmente das expectativas dos empresários sobre a demanda futura e o comportamento dos consumidores.
Foi de Keynes a famosa ideia de “espíritos animais”, termo que ele usou para descrever o comportamento humano irracional, guiado pelo otimismo ou pessimismo sobre o futuro econômico. Em épocas de grande otimismo, os empresários aumentam seus investimentos, impulsionando o crescimento econômico. Em momentos de pessimismo, no entanto, a retração dos investimentos pode levar a recessões profundas. Assim, para Keynes, as expectativas dos agentes econômicos não são sempre racionais e, frequentemente, oscilam conforme o humor coletivo e as incertezas sobre o futuro.

Expectativas Racionais e o Novo Paradigma
Enquanto Keynes reconhecia que as expectativas eram, muitas vezes, incertas e irracionais, o desenvolvimento da teoria das expectativas racionais no final do século XX trouxe uma nova abordagem. Essa teoria, formalizada pelos economistas John Muth (1961) e, posteriormente, Robert Lucas (1972), argumenta que os agentes econômicos formam expectativas com base em toda a informação disponível e de forma consistente com os modelos econômicos.
Na visão das expectativas racionais, os indivíduos e empresas não cometem erros sistemáticos ao prever o futuro. Eles ajustam suas expectativas conforme novas informações surgem e, em média, acertam suas previsões. Essa abordagem teve um impacto profundo na macroeconomia e na política econômica, especialmente nas teorias monetárias e fiscais.
Robert Lucas, um dos líderes da Revolução das Expectativas Racionais, defendeu que as políticas econômicas baseadas na manipulação da demanda agregada (como as propostas keynesianas) seriam ineficazes se os agentes antecipassem essas políticas. Por exemplo, se o governo tentasse estimular a economia com um aumento da oferta de dinheiro, os agentes racionais ajustariam suas expectativas de inflação, e qualquer benefício de curto prazo seria neutralizado por expectativas inflacionárias crescentes.
Essa visão das expectativas racionais sugeriu que a política econômica deve ser previsível e credível para não gerar distorções nos comportamentos econômicos. Lucas e seus seguidores, conhecidos como novos clássicos, argumentaram que as flutuações econômicas são melhor gerenciadas quando as políticas monetárias e fiscais são transparentes e previsíveis, com os agentes antecipando corretamente as consequências dessas políticas.
Expectativas Adaptativas
Outra abordagem relevante no estudo das expectativas é a teoria das expectativas adaptativas, defendida por economistas como Milton Friedman. Ao contrário das expectativas racionais, essa teoria propõe que os agentes formam suas previsões sobre o futuro com base em eventos passados e ajustam suas expectativas gradualmente à medida que novas informações surgem. Por exemplo, se a inflação no ano passado foi alta, as pessoas podem esperar que a inflação continue alta no próximo ano, mesmo que as condições econômicas tenham mudado.
Friedman utilizou essa abordagem para formular sua teoria da curva de Phillips modificada, argumentando que há uma relação de curto prazo entre inflação e desemprego, mas que, a longo prazo, as expectativas se ajustam, anulando qualquer trade-off sustentável entre essas variáveis. Com o tempo, as expectativas adaptativas podem levar os agentes a prever a inflação corretamente, mesmo que tenham subestimado ou superestimado no curto prazo.
O Papel das Expectativas na Política Monetária
Na prática, as expectativas têm uma enorme influência na política econômica, especialmente nas decisões de política monetária. A inflação, por exemplo, é amplamente determinada pelas expectativas dos agentes econômicos. Se as empresas e consumidores esperam que os preços aumentem no futuro, eles ajustarão seus comportamentos, elevando os salários e os preços de bens e serviços de maneira antecipada, o que pode, de fato, gerar inflação. Da mesma forma, se as expectativas de inflação são ancoradas, isto é, se os agentes confiam que o banco central manterá a inflação sob controle, a inflação tende a permanecer relativamente estável.
Por isso, a credibilidade dos bancos centrais é fundamental para a condução da política monetária. Se os agentes econômicos acreditam que o banco central não será capaz de controlar a inflação, suas expectativas se desancoram, e a política monetária perde eficácia. Por outro lado, quando um banco central é visto como confiável e comprometido com metas de inflação, as expectativas se alinham, ajudando a estabilizar a economia.
As expectativas são um dos pilares invisíveis que sustentam a economia. Embora não possam ser medidas diretamente, suas influências são vastas e poderosas, afetando decisões de consumo, investimento, poupança e política econômica. Desde Keynes, que introduziu a incerteza e os espíritos animais no coração da macroeconomia, até os teóricos das expectativas racionais que formalizaram como os agentes processam informações, a compreensão das expectativas transformou a forma como pensamos sobre os mercados e a política econômica. Na prática, gerir expectativas de forma eficaz é tão importante quanto gerir os recursos tangíveis de uma economia. O futuro, afinal, está sempre moldado pelo que as pessoas esperam dele.

Livros e Links
Adam Smith – A Riqueza das Nações (1776)
John Maynar Keynes – A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda – PDF (1936)
John Muth (1961) e Robert Lucas (1972) – Estudo Relacionado aos Autores ;Estudo Relacionado a Robert Lucas
Milton Friedman – Capitalismo e Liberdade