O conceito de bem-estar social é um dos pilares da economia do bem-estar, que busca avaliar como a distribuição de recursos e a organização das atividades econômicas afetam o bem-estar coletivo. Na perspectiva da microeconomia, o bem-estar social envolve não apenas a eficiência na alocação de recursos, mas também questões de equidade e justiça distributiva. Diversos pensadores contribuíram para o entendimento do bem-estar social, como John Rawls e Jeremy Bentham, além de abordagens como a função de bem-estar de Bergson-Samuelson. A seguir, exploramos essas visões sob um prisma microeconômico.
A Teoria da Justiça de John Rawls
John Rawls, em sua obra “A Theory of Justice”, introduz o Princípio da Diferença como um alicerce fundamental para a função de bem-estar social. Rawls argumenta que as desigualdades sociais e econômicas só são justificáveis se resultarem em benefícios para os membros menos favorecidos da sociedade. Assim, a distribuição de renda deve ser orientada de forma a melhorar a situação daqueles que estão em piores condições, respeitando o Princípio da Igualdade, que assegura iguais liberdades básicas para todos.
Sob a perspectiva microeconômica, a visão de Rawls implica em políticas de redistribuição de renda e intervenção estatal para garantir que os mais desfavorecidos possam se beneficiar das atividades econômicas. A aplicação do Princípio da Diferença sugere que qualquer aumento na desigualdade deve ser justificado apenas se melhorar o bem-estar dos menos favorecidos, levando a um papel ativo do Estado em corrigir disparidades excessivas.

A Função de Bem-Estar de Bergson-Samuelson
A função de bem-estar social desenvolvida por Abram Bergson e Paul Samuelson fornece uma abordagem matemática para mensurar o bem-estar agregado da sociedade. Esta função considera a utilidade individual de cada membro da sociedade, permitindo avaliar se uma determinada alocação de recursos é eficiente e justa. A análise de Pareto é um dos instrumentos utilizados para avaliar se uma mudança na alocação de recursos melhora o bem-estar social sem piorar a situação de ninguém (eficiência de Pareto).
Microeconomicamente, a função de Bergson-Samuelson facilita a análise de políticas de transferência e distribuição de renda, fornecendo um modelo flexível para avaliar a relação entre eficiência e equidade. Diferentemente de Rawls, essa função permite um balanceamento mais refinado entre a maximização do bem-estar total e a distribuição dos recursos, refletindo as preferências sociais.
Utilitarismo Clássico: Bentham e a Maximização da Utilidade
Jeremy Bentham, um dos pioneiros do utilitarismo, propõe que a moralidade das políticas econômicas deve ser julgada pela quantidade de felicidade ou utilidade que elas geram. A função de bem-estar social utilitarista é a soma das utilidades individuais, sugerindo que as decisões econômicas devem buscar maximizar o bem-estar total da sociedade, independentemente da distribuição dessa utilidade entre os indivíduos.
Na ótica microeconômica, o utilitarismo promove políticas que aumentem a utilidade agregada, mesmo que isso resulte em desigualdades. Se uma política econômica puder aumentar o bem-estar total, o utilitarismo a apoiará, ainda que beneficie mais certos grupos em detrimento de outros. Isso pode levar a situações onde a eficiência é priorizada em relação à equidade.

Comparando as Teorias do Bem-Estar Social
A análise comparativa entre as diferentes abordagens revela como cada uma prioriza aspectos distintos do bem-estar social. Rawls enfatiza a equidade e a justiça, buscando minimizar as desigualdades e favorecer os menos privilegiados. A função de Bergson-Samuelson permite um balanço entre eficiência e equidade, sendo flexível e adaptável às preferências sociais. Por outro lado, o utilitarismo foca na maximização da utilidade total, o que pode resultar em uma distribuição desigual de recursos, contanto que a felicidade agregada seja maximizada.
Do ponto de vista das políticas públicas, Rawls justifica uma intervenção governamental intensa para assegurar a melhoria dos mais desfavorecidos, enquanto Bergson-Samuelson possibilita uma análise mais pragmática das intervenções. O utilitarismo, por sua vez, apoia intervenções que promovam um aumento líquido de bem-estar, mas sem um foco específico em reduzir desigualdades.
Samuelson
W(x₁, x₂, …, xₙ), onde W é uma função crescente e concava das utilidades individuais (u₁(x₁), u₂(x₂), …, uₙ(xₙ)).
Utilitarista
W = Σuᵢ(xᵢ)
onde uᵢ(xᵢ) é a utilidade do indivíduo i.
Cada uma dessas perspectivas oferece contribuições valiosas para a compreensão do bem-estar social, sendo essencial considerar os valores e objetivos da sociedade ao escolher qual abordagem adotar em termos de políticas econômicas e sociais. A discussão sobre bem-estar social é, portanto, uma reflexão sobre como equilibrar eficiência e equidade, e como garantir que o crescimento econômico beneficie a todos de maneira justa e sustentável.